quinta-feira, 1 de maio de 2014

Entrevista Ana Luisa Barros

Dificilmente, ou melhor, você nunca encontrará fã maior do Mark Lanegan do que a Ana. Conheci ela através da Annix, espiava o seu blog Galaxy Of Emptiness e ficava admirado com a sensibilidade e conhecimento de arte lá publicados, ela tem uma imensa sequencia de posts chamado “Quando a arte vira rock” que é fantástico, associando quadros, desenhos e esculturas clássicos com os personagens do rock.

Além disso a timeline dela no facebook é uma aula diária sobre street, pop e arte clássica, já falei que ela sabe tudo de “prefixo-art-sufixo”, além de escrever muito bem é só conferir abaixo. Ah, conheci o excelente primeiro disco da banda the Editors graças a uma publicação dela.

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Um dos autógrafos do Mark Lanegan.

1) Acho que todos, em algum momento, percebem que a música é algo além de dançar ou se chacoalhar e veem que ela traz muitas emoções e se fixa na memórias ao longo da vida. Qual a música ou lembrança musical mais antiga que tu tens e qual o primeiro disco comprado com as próprias economias? Fale também qual a música ou banda que fez tu perceber que a música teria uma importância muito grande na tua vida?

Bom, tenho 39 anos, sou de 75. Minha recordação musical mais remota é de “Chão de Estrelas” na voz de Nelson Gonçalves, o Leonard Cohen brasileiro! E na voz da minha mãe, dirigindo, eu sentadinha no banco de trás da Brasília. Eu sabia cantar a música inteirinha, que tem uma letra matadora de linda. Mas indecifrável para uma criança de três, quatro anos. Na minha cabecinha vinham imagens de um palco de ouro brilhando na noite, com um palhaço desanimado passeando entre roupas balançando no varal. Nelson Gonçalves foi meu primeiro professor de música. Lição número um: até mesmo na melancolia você pode encontrar beleza, encanto e aconchego (e é tudo isso que eu persigo até hoje quando ouço música). Lição número dois: menina, caras de voz grave para sempre terão o poder de acelerar seu coração.

Sinceramente, não faço a menor ideia de qual foi o primeiro disco que comprei com minha mesada. Talvez tenha sido uma fita cassete do A-ha, que eu venerava.

“Substance”, coletânea do New Order, provou para mim que ouvir música tornava tudo à minha volta muito melhor. Foi lançada aqui quando eu tinha doze ou treze anos. Era tudo junto em uma seleção só: rock e eletrônico, homem e máquina, escuridão e sol, um ombro para chorar e uma pista de dança. Rodei muito a fita cassete em torno do lápis (quem nunca?), para rebobinar sem gastar as pilhas do walkman e escutar “Perfect Kiss” pela enésima vez seguida.

2) A função da música pode ser também um modo de socialização, formação de grupos. E nesses grupos pode surgir a identificação com um estilo musical e também a apreciação (de cada membro) de uma banda específica, isso para manter a  individualidade de cada um. Teve um grupo de amigos assim? Qual era a “sua” banda e existia algum estilo que não gostava e que outros amigos apreciavam?

Na minha adolescência, e mesmo durante os anos de faculdade, nunca rolou de eu formar ou entrar em um grupo motivada por afinidade musical, fosse de estilo ou de banda. Os critérios eram outros. Basicamente eu grudava em gente com a qual eu me sentia bem. A música vinha depois. Lá na rua da minha avó, onde eu brincava, minha patota das meninas apaixonadas pelo A-ha sofreu uma baixa quando uma traíra trocou nossos deuses noruegueses pelos caras esquisitos do Depeche Mode (hoje eu admito que foi uma grande troca). Na faculdade, meu melhor amigo, que destilava sarcasmo, tiradas geniais (e destilados) por todos os poros do corpo, adorava música clássica. No começo do milênio (que estranho falar isso!), aí sim: o Garagem foi para mim o paraíso na Terra. Programa da rádio paulistana Brasil 2000 que, em poucas palavras, tocava música de qualidade (fosse indie rock ou rock mais comercial). Invadiram minha vida pencas de músicos e bandas até então obscuras para mim (Belle and Sebastian, Chemical Brothers, Curve, Moby, Radio4, Massive Attack, Beth Orton, Air, Bloc Party, Mercury Rev, January, Primal Scream, Ladytron, Walkmen, Belly, Teenage Fanclub, Prodigy, Mazzy Star e um rastro infinito de sons diferentes), ou não (Blondie, Sex Pistols, Joy Division, Cure, Queens Of The Stone Age, Stooges, Radiohead...), todas sensacionais, e pessoas queridas graças ao programa, ao amor comum à música. E nos últimos sete, oito anos, conheci vários doidos por causa do Mark Lanegan, meu cantor de rock preferido, e à internet. Tudo fã. Gente que veio para ficar, gente que passou por mim e perdi o contato, gente mais nova, mais velha, de perto, de longe e sem vínculo algum a não ser um genial ruivo rabugento e rouco: um baiano, uma gaúcha, uma inglesa, americanos, paulistas, alemães, uma austríaca, uma italiana....Na saída de um show do Lanegão, zureta depois de uns copos de vinho, cerquei o homem no meio de uma rua londrina e, em um inglês macarrônico, o agradeci (!) por me ter feito conhecer tanta gente legal. Ele riu.

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3) Qual o seu show inesquecível, qual o que se arrepende não ter ido e qual o que gostaria de ir mas nunca teve oportunidade, seja pela distância ou até pelo tempo, tipo um show que foi realizado quando era criança ou não era nascido?

Do Sigur Rós, uma espécie de Radiohead da Islândia, em um teatro em Barcelona, 2005. Se me oferecessem grana alta para apagar da memória tudo o que vi, ouvi e senti, eu recusava. É uma recordação preciosa, que eu guardo como um diamante. É minha, ninguém tira. Valor inestimável. Sabe quando a gente se vê diante de uma obra de arte, seja ela qual for, de tamanha perfeição, beleza, delicadeza e força que você se sente recompensado e profundamente agradecido porque testemunhou algo especial, único, inesquecível? Detalhe: em disco, o encanto se quebra. No geral, os álbuns do SR são chatos pra burro.

Dói nunca ter visto o Hooverphonic das antigas. É uma banda belga de trip-hop. Eletrônico calminho, embalado por uma voz angelical feminina. Lembra a inglesa Portishead. Ainda melhor, na minha opinião. Ou lembrava. Porque a banda ainda existe. Mas ficou chata. Trocaram a vocalista, as melodias se tornaram mais pop. No mau sentido. Nunca vi um show deles por pura preguiça de encaixá-lo na programação de uma das minhas viagens. Agora já era.

Digitando no youtube “Lanegan Urbino Fix” aparecem os treze minutos e sete segundos (são dois vídeos) que não foram e nunca serão meus, infelizmente. Um clubinho perdido em uma cidadezinha histórica da Itália, sobre o palco uma bateria eletrônica e os caras do Queens Of The Stone Age dando uma forcinha para um Lanegan sorumbático, que se segura por cinco minutos, até despejar toneladas de dor em forma de voz e fumaça de cigarro. Dá para enxergar o peso do mundo apoiado em cima dos ombros de um jovem velho. Por que faltei? Em 2002, nem fazia ideia de que o ex-vocalista do Screaming Trees, banda grunge, tinha seguido carreira solo.

4) Se não pudesse escutar nenhuma banda ou intérprete que lançou discos no século passado o que escutaria hoje? E qual a sua fonte de atualização musical?

Ah, que maldade. O que me restaria, sem Mark Lanegan e PJ Harvey? Azure Ray (duas americanas, seus violões, um pouquinho de eletrônico e um vendaval de melodias lindas), Black Angels (caipiras do Texas. Velvet Undergound misturado com Doors e My Bloody Valentine. A Nico deles é uma loirinha delicada que toca (espanca) bateria marcial com fúria hercúlea. Vi ao vivo. Saí sem fala do show), Katie Cruel (Wendy Rae Fowler. A ex senhora Lanegan é dona da minha voz preferida no rock), Burial (se o grafiteiro Banksy fosse um músico, seria o Burial. Vai ver que é mesmo, já que Banksy é o homem sem rosto e sem nome. Dubstep dos becos mal iluminados de Londres. Ouça “Ashtray Wasp” no youtube e talvez você me agradeça, rs), Warpaint (shoegaze feito por princesas), Audio Bullys (tá, se o Banksy não for o Burial, é um dos caras dessa dupla londrina. Som colorido, sarcástico e que te sacode, como um bom grafite malandro no muro), Editors (aprende, Coldplay), Ladyhawke (neozelandesa que cumpriu com distinção uma façanha digna de poucos: as faixas de seu primeiro disco, “Ladyhawke”, são todas sensacionais: new wave + revival anos 80 + teclados + sintetizadores + Flashdance! Em compensação, você boceja em todas as faixas do segundo álbum, rs. Fique com o primeiro e ignore o segundo), Savages.

Internet. Páginas de bandas e músicos e publicações que eu sigo em redes sociais, colunas de cultura pop. Quando estou em Londres, lojas de discos. Um ou outro amigo atualizado. Vez ou outra eu fuço no youtube, abrindo vídeos de artistas desconhecidos ao lado de um vídeo de alguém que eu já conheça e goste. Vai que são músicas na mesma linha ou ainda melhores. Mas geralmente eu me limito a ler os links que caem na minha home do Twitter e do Facebook. Sempre tem algo que vale a pena experimentar.

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5) Fale umas dez bandas, músicas ou discos que modificaram a tua vida de alguma forma e, se quiser, descrever como e porque.

* “Substance”, coletânea do New Order.

* Queen. Minha mãe é mulher de uma banda só. Queen. E mulher de um homem só. Freddie Mercury. Por osmose, ouvi Queen aos montes quando criança.

* A-ha. Não tanto pela herança musical, embora o pop deles seja muito bem feito. Foi minha primeira experiência como fã de uma banda. Fã que coleciona os discos, fotos de revistas, que analisa a banda conversando com as amigas, que nutre paixão platônica pelos músicos, que fica torcendo para que o próximo álbum fique logo pronto, que tenta ir melhorando o inglês para entender o significado das letras. Meu primeiro show.

* “Suspicious Mind”, cantada pelo Elvis. Durante meus anos de Largo São Francisco, eu andava com os moleques veteranos que estavam um ano na minha frente. Era o Clube dos 40, um trocadilho com o título do Clube dos 5, filme do John Hughes. Só que não eram 40 membros, mas 40 graus etílicos. No QG do clube, mais conhecido por boteco do Tonho, eu só bebia San Remy, que fique claro, rs. Os distintos cavalheiros degustavam qualquer líquido com potencial para esterilizar o balcão e desentupir ralo de pia. Nosso hino, entoado em coro, era a canção do Elvis. Encerrados os trabalhos, íamos descansar nas confortáveis acomodações do pulgueir....digo, centro acadêmico. Espantávamos os maconheiros chinelentos, a fita cassete do Cidade Negra era gentilmente arrancada do som, despachada para o lixo, e no lugar reinava absoluta “Substance” (ela de novo!), com toda pompa e circunstância.

* “1965”, do Afghan Whigs. Em 1999, eu estava formada, desempregada, estudava quase o dia inteiro para passar em um concurso público, e tinha engordado bem. Ouvir esse disco era minha única alegria. Tenho uma dívida de gratidão com Greg Dulli.

* Mark Lanegan e PJ Harvey. Porque sei lá eu que raio de combinação de melodias eles conseguem criar, adicionando aquelas vozes, para detonar uma reação química no meu cérebro que faz com que eu tenha certeza de que essenciais mesmo, indispensáveis, só mesmo eles dois. Daria para seguir em frente deixando de ouvir as músicas de qualquer outro artista. Seria uma vida incolor, mas ainda seria uma vida. Sem eles, nunca. Não seria uma vida, mas mera contagem regressiva de tempo na Terra.

* Savages ano passado, show em Londres. Uma avalanche de som que me fez chorar, arrepiada. Banda inglesa só de meninas, vocalista francesa. Lembra Nirvana misturado com Killing Joke. O rock desse começo de século está salvo.

* Nine Inch Nails. Porque é a banda preferida da minha melhor amiga. É uma amizade de vinte anos. Trent Reznor, o líder do NIN, é um monstro. Rock com eletrônico que dá taquicardia. Ouço o NIN e vejo a Marcinha na minha frente, toda vez. É como lembrar de alguém após sentir o perfume que a pessoa usa, ainda que ela não esteja presente. É uma marca pessoal. E a Marcinha tem perfume de NIN.

6) Toca ou já tocou algum instrumento? Teve alguma banda, mesmo que imaginária, como ela era?

Dos seis aos sete anos de idade, e dos doze (acho) aos dezesseis, fiz aulas de piano. O que absolutamente não quer dizer que eu saiba tocar. Já esqueci tudo. Talvez porque piano nunca foi um interesse meu. Minha avó, minha tia e minha mãe amavam e tocaram piano. Então eu tinha que aprender, como quem tem que aprender Matemática. Achava chato, era um alívio quando as aulas e lições de casa terminavam. Sou imprestável para identificar melodias de ouvido. Não sei diferenciar um fá de um lá. Nunca tive banda, não conseguiria tocar nada sem uma partitura na minha frente.

7) Já atacou de DJ ou algo parecido? Como foi a experiência?

Mais ou menos, rs. Mais pra menos, vai. Em uma festa, um amigo meu, ele sim DJ, me delegou tão nobre tarefa por uns vinte minutos. Mas não era bem uma feeeesta. Festinha de apartamento em que a sala, digo, a pista, estava mais deserta do que o Saara. Como já bem dizia aquela (grande) música do DJ Tocadisco (juro, não é piada, é o nome artístico do cara. Que é alemão), “Nobody Likes The Records That I Play”.

8) Se fosse para participar de uma banda, qualquer uma, qual seria e que instrumento tocaria?

Nos meus sonhos mais lindos eu tocaria guitarra e comporia como a PJ Harvey. Mas na realidade, se eu tivesse que necessariamente entrar numa banda, teria que ser em um esquema parecido com o da Nico no Velvet Underground: tocar um pandeirinho discreto. Mas com a boca bem fechada, claro. Minha voz é 100% insossa.

9) Que músicas ou estilo embalariam ou embalam tarefas cotidianas ou dias específicos, tipo passear de carro em uma tarde de sábado de primavera? Praticar um esporte radical? Atravessar a cidade a pé em uma madrugada de inverno? Coloque outros itens.

Com toda a franqueza, eu quase sempre ouço música dentro do meu carro. E só. Com exceção dos momentos em que fico vendo e ouvindo vídeos antigos e novos no youtube, o que não acontece todo dia. Dirigir é a única tarefa que eu, incapaz de mascar chiclete e descer escada ao mesmo tempo, consigo conciliar com música. Não tenho um tipo de música específico para andar de carro. Antes de sair pego o iPod ou dou uma olhada nos CDs e cato o que me dá na telha de ouvir naquele dia. Esporte radical...desconheço isso, rs. O lance é que eu moro em São Paulo. Trânsito pesado faz parte dos meus dias. Há anos, todo dia de semana, eu dirijo uma média de duas horas. Ler um livro, trabalhar com música, visitar um museu com fones de ouvido, não consigo, desvia minha atenção. Caminhar na rua escutando música é impensável, dada minha paranoia. Como já disse, moro em São Paulo e trabalho com criminosos (quer dizer, contra eles). Boto o pé na rua e já ligo o alerta contra a aproximação de eventuais roubadores, furtadores, estupradores, atropeladores, estelionatários e afins. Preciso dos meus ouvidos livres e nada chamativos. Viajando por cidades mais civilizadas, gosto de curtir os barulhos e ruídos novos que as ruas desses lugares me oferecem. Dentro de um carro, eu me sinto protegida (ainda que seja uma sensação ilusória). Dá para baixar a guarda. É aconchegante. Às vezes até romântico, dependendo da companhia. Os melhores e mais marcantes beijos são sempre dentro do carro, com suas músicas do coração rolando pertinho, aprisionadas por aquela cabine acústica.

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10) Acho que todos gostamos de algumas músicas que não tem muito a ver com a imagem que temos de nós mesmos, que música ou banda não gostaria de ser flagrado ouvindo por uma pessoa que não te conhece ainda? Que poderia criar uma imagem errada do teu gosto?

Sei. Guilty pleasure. Tipo ser pega no flagra e gritar “não é isso que você está pensando”, como em cena de mulher traindo o marido, né. Bom, semanas atrás, eu dirigia e ouvia rádio quando tocou a música nova do Coldplay. A canção se chama “Magic” e tem um refrão agradavelmente pegajoso. Quem diria! Finalmente uma música que não dá uma vontade louca de amarrar, amordaçar e trancar o Chris Martin no armário das vassouras. Tudo bem que lá pro final ele me solta um falsete brega que quase arruína tudo. Mas dá pra fingir que eu não vi, vai. Ouvi. De qualquer forma, esse momento de lucidez não redime o pífio conjunto da obra coldplayana. Coldplay, pra mim, é sinônimo de banda sem imaginação, com canções piegas entoadas por aquela eterna voz de chororô do Martin. Não tenho nada a ver com essa gente, hein, rs.

11) Na adolescência qual era o estilo de música que tu achava que estaria ouvindo hoje e qual realmente está?

Eu ouvia rock, pop e tinha um pé atrás com eletrônico. Hoje eu ouço rock em um sentido mais amplo do que o rock clássico, por assim dizer. Um pouco de punk, um pouco de rock folk, rock industrial, grunge, shoegaze, etc. E escuto muito mais indie rock do que as bandas tradicionais que a maioria conhece. À medida que a adolescência foi passando, fui cortando fora o rock nacional medíocre que as rádios vomitavam nas minhas orelhas, continuei de costas viradas e ouvidos fechados para a MPB intelectualóide. E aprendi a distinguir o eletrônico do mal do eletrônico do bem.

12) Números. Quantos discos, cds, dvds, k7 e livros musicais já teve até agora. Indique alguns livros e filmes interessantes sobre música.

Há. Putz, impossível contabilizar isso. Não porque eu tenha coisa demais, mas sim porque meus tesouros estão todos polvilhados pela casa, rs. Abro uma bolsa que desenterro do fundo do armário e.....oh, você estava escondidinho aí, Nevermind! E por aí vai. Outra coisa: já faz mais de uma década desde o advento do mp3. Houve a libertação do formato físico. Desde então, compro CDs das bandas de que realmente gosto e confio. Antes disso, acumulei muito CD comprado por causa só de três, quatro faixas realmente boas. Agora, nos últimos anos, não acrescentei muitos CDs à coleção, e sim músicas incorpóreas. Como contar isso? Tenho dois quintos de um CD, que somarei com os três quintos daquele outro álbum baixado...e conto um? E o troço vai mais longe: às vezes eu nem baixo. Bibliotecas do lastfm, do youtube....valem? Ter muito CD é medida de paixão por música? Foi. Os moleques de hoje têm dentro de um iPod o acervo que um cara de 50 tem forrando as paredes. Mas enfim. Talvez eu tenha em torno de uns 250 CDs físicos. Poucas fitas e dá pra contar na mão os LPs. Não tenho vitrola.

Tenho poucos DVDs de música. Se é um show maravilhoso, prefiro ficar só com o áudio em mp3 ou CD. Não tem graça assistir gravação de show, bom mesmo é ver ao vivo.

Entre os filmes sobre música de que gosto, há “Febre de Juventude” (“I Wanna Hold Your Hand”), comédia sessão da tarde de 1978. Uma delícia. Uma turminha de garotas e garotos fãs dos Beatles faz de tudo para chegar perto dos ídolos durante a primeira visita da banda a Nova York. Tem uma cena envolvendo o baixo do Paul que é uma das minhas preferidas do cinema. “Serge Gainsbourg – O Homem Que Amava as Mulheres” também é ultragostoso de ver, com música e cenas lindas, algumas incorporando animações. E “Contra a Parede”, filme alemão do Fatih Akin, é um dos meus filmes preferidos. Um punk quarentão, falido, se casa com uma garota de origem turca ansiosa por se libertar das rígidas tradições familiares. Volta e meia o Telecine reprisa.

“Livros sobre música” incluem livros de ficção em que a música desempenha um papel importante? Ou só biografias de músicos e livros escritos por críticos de música? Se for tudo, acho que em torno de uns 100, não sei.

Autobiografias bacanas, divertidas, de caras gente boa que não tiveram medo de desenterrar os esqueletos do armário: a do Ozzy, do John Taylor do Duran Duran, a do Duff McKagan, ex-baixista do Guns&Roses (por incrível que pareça, ele era o cara punk em uma banda nada punk, até meio coxinha. Ele é de Seattle e os primeiros capítulos do livro contam muito sobre o que rolava por lá pouco antes da explosão do grunge). Todas elas foram publicadas aqui. Biografia em quadrinhos do Johnny Cash, linda. Também saiu aqui. E “Músicas e Musas. A Verdadeira História Por Trás de 50 Clássicos Pop”, Michael Heatley e Frank Hopkinson. Cada capítulo, curtinho, é dedicado a explicar quem foi e qual a importância da garota mencionada ou homenageada (ou detonada!) em canções que marcaram a História do Rock. Tem fotos lindas.

Entre os de ficção, livros legais sobre romances entre fãs e seus ídolos ou ídolas do rock: “Juliet, Nua e Crua”, do Nick Hornby, “A Canção é Você”, Arthur Phillips. E um de ficção, lindo, entre dois adolescentes nos anos 80 que amam o rock da época: “Eleanor e Park”, Rainbow Rowell.

Faça duas ou mais perguntas para si mesmo a respeito de música e responda.

Uma só, senão ninguém aguenta. Já falei pelos cotovelos, rs.

“Música gravada ou música ao vivo?”.

Música gravada é portátil e cômoda. Se a gente só pudesse ouvir música em shows, que vida triste teríamos. Só que música ao vivo tem uma característica especial que nenhuma outra manifestação artística (com exceção talvez de peças de teatro) tem. Além de exigir competência dos músicos (um show é a hora da verdade. Não tem estúdio, produtor ou equipamento de primeira que segure uma máscara na hora do vamos ver), se você, amante da Música, que a considera uma Arte, vai a um show, terá uma experiência única. Amantes da pintura apreciam uma obra de arte acabada. O resultado de uma execução primorosa. Ninguém viu ou nunca vai ver, por exemplo, Picasso desenhando e pintando Guernica. O cinéfilo não acompanhou as filmagens do seu filme preferido, não viu o roteirista escrevendo, o diretor instruindo os atores, não viu a edição das cenas. Ele também aprecia um produto finalizado, não sua execução. Música ao vivo é a oportunidade de você testemunhar uma obra de arte sendo criada ali, na sua frente. E de se maravilhar à medida que o artista vai trabalhando e executando sua arte. Quando a obra é concluída, você já está emocionado. Uma música gravada, por melhor que seja, será sempre a mesma música. Tanto na primeira como na milésima audição. Não há uma execução de música ao vivo igual a qualquer outra execução anterior. Isso é incrível. É incrível poder amar não apenas uma música, mas as diversas faces, pequenos detalhes e variações que essa única música consegue te oferecer. É como girar o mesmo caleidoscópio e encher os olhos com diferentes variações de cores e imagens.

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