terça-feira, 29 de abril de 2014

Entrevista Castor Daudt

Não Lembro exatamente quando conheci o DeFalla, deve ter sido pela Ipanema FM, lembro que o amigo Vitor Hugo, irmão do Filipe (já entrevistado aqui) gostava muito. Meu primeiro disco deles é de 1988.
Só lembro de ter ido a um show deles, foi no Araújo Viana, grande show e o que me marcou foi quando o Castor Daudt, num intervalo entre músicas, puxou a introdução de Love Will Tear us Apart do Joy Division, eu estava no auge da minha fase Joy Division.
Também vi um show do intrépido surfista, da foto abaixo, com o Atahualpa I Us Panquis na abertura do show da banda Die Haut com o Nick Cave lá em 1993. Até ganhei um disco do Atahualpa arremessado do palco.
Gosto muito do DeFalla, toda a inovação e pioneirismo com samplers, ritmos, efeitos foram criados por eles. Mas eles não foram só um bando de malucos inovadores. Foram uma das bandas mais melódicas e POP no mais alto nível que essas três letrinhas podem significar.
Na entrevista abaixo vocês verão um músico de verdade falando, digo isso, pelo conhecimento enciclopédico, pela vivência musical desde guri e pelo amor e reverência pela música. Não deixe escapar uma palavra desta entrevista.
1) Acho que todos, em algum momento, percebem que a música é algo além de dançar ou se chacoalhar e veem que ela traz muitas emoções e se fixa na memórias ao longo da vida. Qual a música ou lembrança musical mais antiga que tu tens e qual o primeiro disco comprado com as próprias economias? Fale também qual a música ou banda que fez tu perceber que a música teria uma importância muito grande na tua vida?
Lembro de ver a RITA PAVONE cantando seus “rocks italianos” pela TV, em POA, ainda no início dos anos 60. Eu devia ter uns 2 ou 3 anos, mas lembro! Depois, aos 6 ou 7, assisti ao filme HELP dos BEATLES, no cinema, e fui arrebatado totalmente pela sua música e energia.
O primeiro disco (comprado por mim), foi a coletânea brasileira “The Beatles Again” (tinha “Twist And Shout”, “From Me To You” e etc...). Definitivamente foram os BEATLES que me fizeram perceber a importância que a música e o rock teriam na minha vida.
castor
Paralelo a isto, havia as “músicas de festinha”, nos anos 70, que eram músicas pops, de novelas e coletâneas, tipo K-TEL, que escutávamos nas RÁDIOS (AM e FM). (Sou um fanático por “Rádio” e até hoje escuto FMs, no carro, dentro do possível). Tinha Michael Jackson, The Stylistics, B.J. Thomas, Gladys Night, The Supremes e toda esta onda “Motown” e também a onda “Disco”.
Nas festinhas da época (Reuniões Dançantes, Bailes e tal) rolava de tudo, misturado: Rock, Disco, Soul, Pop e etc...
Ainda mais, descobri LED ZEPPELIN, PINK FLOYD, YES, GENESIS, DEEP PURPLE e BLACK SABBATH, que eram bandas que os carinhas “descolados” escutavam. E foi por aí, aos 12 ou 13 anos que decidi que queria um violão. Minha avó, Zuleika Brissac, me comprou uma Craviola de presente e daí em diante a coisa foi acontecendo...
2) A função da música pode ser também um modo de socialização, formação de grupos. E nesses grupos pode surgir a identificação com um estilo musical e também a apreciação (de cada membro) de uma banda específica, isso para manter a individualidade de cada um. Teve um grupo de amigos assim? Qual era a “sua” banda e existia algum estilo que não gostava e que outros amigos apreciavam?
Houve uma época, no final dos anos 70, quando comecei a tocar bateria em “bandas de rock do sul” de verdade, que se discutia muito sobre “estilos” e “bandas prediletas”.
Eu sempre fui mais da “ALA PROGRESSIVA”, e defendia bandas como: YES, GENESIS, KING CRIMSON e o estilo “FUSION (JAZZ-ROCK)” da “MAHAVISHNU ORCHESTRA”, “JEFF BECK”, “DIXIE DREGS”. “BRAND X” e etc.
Do outro lado tinha a “ALA ROQUEIRA”, que defendia os “ROLLING STONES”, “SEX PISTOLS”, “AC/DC”, “KISS” e etc...
Não é que eu NÃO gostasse das bandas roqueiras também, mas a gente ficava “discutindo” e “disputando” qual estilo era “MELHOR”...o que era simplesmente uma desculpa para criarmos “turmas” e passar o tempo...as gurias ficavam perdidas nas brigas, tipo: “...mas o STEVE HOWE(Yes) toca melhor que o KEITH RICHARDS(Stones), porra!!...”
3) Qual o seu show inesquecível, qual o que se arrepende não ter ido e qual o que gostaria de ir mas nunca teve oportunidade, seja pela distância ou até pelo tempo, tipo um show que foi realizado quando era criança ou não era nascido?
Show inesquecível: PAUL McCARTNEY no Morumbi-SP em 2010.
Show que me arrependo não ter ido: YES (qualquer show)
Show que queria ter ido: MUITOS! Mas se tivesse de escolher seria, é claro, dos BEATLES!

4) Se não pudesse escutar nenhuma banda ou interprete que lançou discos no século passado o que escutaria hoje? E qual a sua fonte de atualização musical?

Hoje em dia gosto do BRUNO MARS. Minha “fonte” e atualização musical é a minha filha, AMÁLIA DAUDT, que tem 14 anos e me faz baixar toneladas de músicas “atuais” para ela.
Acho que não valeria, porque tem intérpretes do século passado, mas gosto muito da (já antiga) banda do GLENN HUGHES:
BLACK COUNTRY COMMUNION, (que é deste século XXI, mas que fazia um sonzaço tri-anos 70. Infelizmente acabou, mas lançaram 3 discos fundamentais. Vale a pena dar uma ouvida...).
defallas
Meus discos com a participação do Castor Daudt. O Sanguinho Novo era para ter o DeFalla, mas foram barrados pela letra “bagaceira”, mas ele está lá com o Atahualpa I Us Panquis. Disco Screw you com a capa virada, pois a oficial é proibida para menores de 21 anos.
5) Fale umas dez bandas, músicas ou discos que modificaram a tua vida de alguma forma e se quiser descrever como e porque?
A) THE BEATLES: na real os BEATLES foram o começo de tudo. É a cartilha que todas as bandas de Rock e/ou Pop seguem há décadas. Quem fala algo diferente disto só quer chamar a atenção, ou está gravemente desinformado. TODOS os discos dos BEATLES são ótimos, mas se tivesse de escolher um seria o “RUBBER SOUL”, o que marca a definitiva virada na carreira deles, quando se tornaram verdadeiras lendas da música moderna.

B) GENESIS: quando botei o disco “SELLING ENGLAND BY THE POUND” pela primeira vez fui fisgado. A voz de Peter Gabriel, as melodias, as cordas de Steve Hackett, os climas fortes do Banks e do Rutherford e a bateria nervosa de Phil Collins, que até cantava uma música (More Fool Me)...realmente um clássico. E lembro de ver o GENESIS AO VIVO no Gigantinho em 1977, com o Phil Collins cantando no lugar de Gabriel, e tocando bateria junto com o Chester Thompson na outra bateria. Foi marcante. Tanto que, depois, no DEFALLA, sempre que possível, eu arrumava uma bateria extra para fazer um “DUO” com a BIBA MEIRA. Na real acredito que fomos umas das primeiras bandas a fazer isto (2 baterias) nos anos 80, no Brasil. Depois virou até modinha...

C) DEEP PURPLE: Acho que todo guitarrista começa tirando o “Riff” de “Smoke On The Water” no violão. Não fui diferente. Escutava o s discos “In Rock” e “Machine Head” obsessivamente, e, na primeira banda que toquei bateria (CAMINHÃO HONESTO), nós tocávamos “Smoke On The Water” e “Burn” do PURPLE. Um disco fundamental do PURPLE é o “MADE IN JAPAN”, que além de ser um disco fabuloso, acho que é uma das melhores gravações ao vivo de uma banda de rock no seu auge até HOJE!!

D) LED ZEPPELIN: Todo mundo queria tocar “Stairway To Heaven” no violão, e eu também. Lembro quando meu primo RENATÃO D’OLIVEIRA trouxe o disco “HOUSES OF THE HOLY” pra gente escutar: que paulada!! Depois íamos ver no cinema o filme “Rock É Rock Mesmo” (The Song Remains The Same) várias vezes. O LED é destas bandas que TODOS os discos são fabulosos. Se fosse escolher um, acho que seria o “PHYSICAL GRAFFITI” por ser duplo e extraordinário.

E) BLACK SABBATH: O disco “SABBATH BLODDY SABBATH” resume tudo que se precisa saber do BLACK SABBATH. Mas todos discos com o OZZY são bons, e até alguns com o DIO. Ah...fui no show do SABBATH, agora em 2013, em POA e fiquei abismado...que show, e que som inacreditável que o TONY IOMMI tira daquela SG!!
F) YES: Ao escutar os primeiros acordes de “AND YOU AND I” do disco “CLOSE TO THE EDGE” sabia que estava escutando algo mágico. Já tive TODOS os discos do YES e de seus integrantes em carreira–solo. Vendi tudo a uma loja especializada de POA, mas tenho tudo em MP3 de novo. O único show que nunca assisti, preciso me organizar e ver uma hora destas...

G) PINK FLOYD: O PINK FLOYD é um caso especial. Uma banda fantástica, com discos fantásticos, mas o primeiro LP é ainda uma obra-prima: THE PIPER AT THE GATES OF DAWN, gravado simultaneamente ao SGT. PEPPERS dos BEATLES, e definiram os rumos da música moderna. O líder, vocalista, guitarrista e compositor, SYD BARRET, sucumbiria às drogas e à uma condição mental instável e seria substituído pelo incrível DAVID GILMOUR que ajudou a banda a atingir outros patamares, lançando o álbum definitivo deles: THE DARK SIDE OF THE MOON.

H) KING CRIMSON: O baterista do YES, BILL BRUFORD, saiu da banda no seu auge, quando eles vendiam milhões de cópias, e estavam ficando milionários. Por que? Para se juntar ao KING CRIMSON de ROBERT FRIPP, uma banda genial, com discos absurdos e fundamentais. Difícil escolher um só, mas eu ficaria com um AO VIVO: KING CRIMSON “USA” de 1975...escutar este disco com fones de ouvido é uma viagem sonora garantida.

I) O TERÇO: Falar de bandas a artistas brasileiros exigiria uma outra entrevista, mas vou colocar aqui para completar. O TERÇO é uma das melhores bandas de rock brasileiro e o disco “CRIATURAS DA NOITE” não deve nada a nenhuma banda estrangeira...um clássico.

J) RITA LEE & TUTTI-FRUTTI: poderia falar dos MUTANTES, mas confesso que adoro a fase roqueira da Rita Lee, principalmente o disco FRUTO PROIBIDO. Uma porrada na cabeça. Conheci o baterista que tocou neste disco e tocava com ela no TUTTI-FRUTTI, o FRANKLIN, fizemos uns shows juntos (ele tocava com Marcelo Nova na época) e ele me deu um par de baquetas que guardo até hoje!
Castor Daudt e suas MáquinasCastor Daudt e suas Máquinas.
6) Toca ou já tocou algum instrumento? Teve alguma banda, mesmo que imaginária, como ela era?
















Link Wikipedia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Castor_Daudt
Castor Daudt (Porto Alegre, 1962, é guitarrista, baterista, cantor e compositor do grupo brasileiro de rock DeFalla).

Tocou guitarra apenas nos discos Papaparty(1987) e Its Fuckin' Borin' to Death (1989); logo assumiu o cargo de baterista deixado por Biba Meira gravando Screw You (1989), We Give a Shit (1990) e Kingzobullshit (1992). Volta às guitarras em Top Hits (1995), quando a banda apresentava-se com o nome 'D-Fhala' e sem o vocalista Edu K. Neste disco, é responsável pelos vocais da faixa "You" (Castor também canta e toca todos os instrumentos em "Brainwasher" do álbum "We Give a Shit”).

Abandona o grupo antes da volta de Edu K e do posterior sucesso da fase Miami Rock (2000). Não participou do retorno da banda em 2004, sendo suas guitarras substituídas por Rafael Crespo (ex-Planet Hemp) e Peu (ex-Pitty). Em 2005 criou em Maceió a banda tributo aos Beatles, a "The Beatles Again", com a qual fez vários shows pelo Nordeste.
Agora em 2011 participou do bem-sucedido show de reunião dos 25 anos da formação do "DeFalla", o que provocou uma volta da banda aos palcos nacionais, com shows até em festivais consagrados como o "Porão Do Rock" em Brasília, ao lado de atrações internacionais. Até o presente momento o DeFalla (formação clássica: Biba/Castor/Edu e Flu) continua ativo.
Além do DeFalla, também participou, de 1978 a 1986, dos grupos "Caminhão Honesto"(1978), "A Nata" (1979), "Chamborraia"(1982), "Atahualpa e os Punks", "Os Bonitos", "Júlio Reny e o Expresso Oriente", e "Urubu Rei" (antigo grupo do atual produtor musical Carlos Miranda e de Flávio Santos, também integrante do DeFalla).
7) Já atacou de DJ ou algo parecido? como foi a experiência?
Ainda não.

8) Se fosse para participar de uma banda, qualquer uma, qual seria e que instrumento tocaria?

Paul McCartney: tocaria guitarra e faria backing vocals.
9) Que músicas ou estilo embalariam ou embalam tarefas cotidianas ou dias específicos, tipo passear de carro em uma tarde de sábado de primavera? Praticar um esporte radical? atravessar a cidade a pé em uma madrugada de inverno?
No carro escuto de tudo, de King Crimson a Beto Guedes, passando por The Clash e Foo Fighters. Em casa escuto coisas mais suaves, tipo Style Council ou The Cure, The Church, Yes ou Pink Floyd...
Castor batera1
10) Acho que todos gostamos de algumas músicas que não tem muito a ver com a imagem que temos de nós mesmos, que música ou banda não gostaria de ser flagrado ouvindo por uma pessoa que não te conhece ainda? Que poderia criar uma imagem errada do teu gosto?
Gosto do BRUNO MARS, da JOSS STONE e da AVRIL LAVIGNE, não só por causa da minha filha, mas porque gosto mesmo de algumas músicas deles.
11) Na adolescência qual era o estilo de música que tu achava que estaria ouvindo hoje e qual realmente está?
ROCK e derivados (Prog, Funk, Disco, Pop, Soul, Jazz...). E ainda escuto.


12) Números. Quantos discos, cds, dvds, k7 e livros musicais já teve até agora. Indique alguns livros e filmes interessantes sobre música.


Perdi a conta, honestamente.
Uma época, vendi todos meus VINIS para uma loja especializada, eu tinha coleções COMPLETAS de bandas. Depois fui comprando tudo de novo.
Quando começou a época dos CDs, eu comprava muitos, e tenho armários cheios até hoje.
Agora com MP3 são HDs e HDs lotados de músicas e discografias completas. LIVROS sobre música, tenho centenas, alguns no original em inglês.
Recomendo a autobiografia do BILL BRUFORD, disponível na “Amazon” somente em inglês, fundamental.
Recomendo o livro “Here, There and Everywhere” - Minha Vida Gravando os Beatles - Geoff Emerick. Saiu agora em português e é maravilhoso para quem gosta de música.
Adoro ficção científica e biografias de bandas e músicos.
Castor Daudt DeFalla arrumada
Vale a pena ser músico?
Claro que vale!

Mas...vivemos no BRASIL. E ser músico no BRASIL ainda é complicado. Ainda mais se estiver fazendo um tipo de som não muito comercial. (Principalmente hoje em dia, que o estilo mais comercial é, no mínimo, de gosto duvidoso).

Eu diria que a música SEMPRE vale a pena, e se a gente ama mesmo, deve se fazer sacrifícios para que ela faça parte da nossa vida. Principalmente na juventude, quando temos reservas de energia infinitas. Eu devo ter passado uns bons anos sem dormir e sem comer direito, entre os 15 e os 30 anos...

Mas, no momento em que ela se tornar um empecilho, podemos ter um “Plano B”.
Não é motivo de vergonha. Todo artista, até famosos, já passou por fases de “VACAS MAGRAS”.
O vocalista do VAN HALEN , Dave Lee Roth, uma época largou a música e foi ser Comissário de Bordo.
O RPM foi a maior banda de Rock do Brasil e os caras ganharam milhões. Mas eventualmente alguns precisaram até trabalhar como taxistas, dirigindo para outros famosos, disfarçados por vergonha, e o vocalista Paulo Ricardo fazia performances em circos vagabundos do interior do país, por trocados.
O baixista do LEGIÃO URBANA, grande Negretti, foi morador de rua e mendigo, e não sei como anda atualmente.

Se o cara não for rico, de família rica, ou não tem nenhuma herança, imóvel, ou fonte de renda regular, não custa se especializar em outra coisa. Tem tantas coisas legais: ser cozinheiro (chef), dar aulas (professor), escrever (jornalista), e etc...enfim...não custa ter uma carta na manga reservada.

Eu fiz uma faculdade de PUBLICIDADE & PROPAGANDA, na FAMECOS-PUCRS e trabalho atualmente nesta área, na TVE-AL, depois de ter deixado o diploma na gaveta por quase 15 anos...
É o que paga as minhas contas, atualmente.
Houve uma época que dava pra se viver de Rock no Brasil, mas hoje está cada vez mais difícil, mas não impossível.

Por isso poderia dizer que, SIM, VALE A PENA SER MÚSICO e fazer tudo para viver da música.
MAS...não custa ter um “Plano B”.
E a idade vai chegando, pra todos, e eu acho meio triste ver grandes músicos e artistas passando dificuldades no final da sua vida, aqui no BRASIL, principalmente.

Como diziam os grandes REPLICANTES:
“Seja Punk Mas Não Seja Burro!!”

#Anyway, o meu AMOR pela música é ETERNO e MARAVILHOSO!#

E, enquanto eu puder, farei DE TUDO ao meu alcance para continuar a fazer música, cantar e tocar por aí!

CHEERS!!















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